Ao Arrepio do Barão

23 de setembro de 2009

Muitos países devem estar comemorando a atitude brasileira de abrigar o presidente deposto de Honduras em sua embaixada naquele país. Muitos estão dando graças a Deus, por ter aparecido alguém que se preste a este papel, já que poucos querem jogar suas reputações diplomáticas aos ventos das incertezas.
Desde o nascimento do Estado Nação, no século XVII, a diplomacia tem sido a arte de defender os interesses dos Estados diante da anárquica relação que há entre todos eles. Hoje, quando todos os conceitos parecem passar por revisões, já não podemos afirmar categoricamente muita coisa, ainda mais em se tratando de relações internacionais.

Ainda assim, a confiança, atributo desejável de qualquer diplomacia, se constrói através de anos e anos de coerência entre a postura diplomática e os princípios da política externa. Neutralidade, não intervenção, resolução pacífica de conflitos, autodeterminação etc, são postulados da política exterior nacional que foram consolidados ao longo de muitas décadas de atitudes coerentes e positivas.
Essa capacidade de responder de acordo com o que todos esperam e consonante com os legítimos interesses do país é uma das virtudes de uma diplomacia coerente e que transmite confiança às demais nações, gerando expectativas concretas que respaldam essa credibilidade ao longo do tempo. Atitudes surpreendentes, por parte da diplomacia e fora das expectativas das demais nações são arroubos que precisam ser muito bem pensados e subordinados ao único respaldo “teoricamente aceito”, a saber: o legítimo interesse nacional, princípio tão bem ilustrado na frase do próprio Barão do Rio Branco: “Em toda a parte me lembro da Pátria”.
Em sã consciência, não parece que abrigar o Sr. Manuel Zelaya seja uma atitude de interesse nacional, tampouco uma atitude coerente com os princípios da nossa política exterior, forjados e consolidados ao longo de muitos anos. Parece sim, ser um protecionismo ideológico, um compromisso de amigos, um acordo de bastidores de partido.
Proteger o quê? De quem? Um homem que foi rejeitado pelo congresso, que numa democracia significa o próprio povo, e condenado pela corte suprema de seu país, que numa república significa ter autoridade e independência legal para fazê-lo, das conseqüências legais dos seus atos? Não parece ser isso um problema de interesse nacional.
Então, o que fazer diante de uma diplomacia ideologicamente orientada? Será o interesse do Estado Brasileiro a defesa do radicalismo democrático, onde o respaldo do voto passado garante ao eleito agir ao arrepio da lei contra os interesses do próprio Estado? Se assim for, está tudo indo muito bem e não temos que estar surpresos.
Coerência mesmo há entre o que estamos testemunhando e a situação da imagem da República (foto) junto ao monumento do Barão do Rio Branco, na Praça da Alfândega, em Porto Alegre. Sem o seu braço direito, arrancado por vândalos, fita o nosso maior diplomata que, ainda que pensando na pátria, não pode fazer nada...

2 comentários:

Anônimo disse...

Excelente artigo. Acredito que o problema em Honduras náo é uma questáo de branco e preto, ou bem e mal. Tudo é fruto de uma imatura democracia onde todos lutam por seus interesses, sob a influencia de atores externos. E nessa cumbuca, aí estamos nós (Brasil, querendo assumir uma pretensa "liderança" em defesa do suposto lado do "bom". Éste é mais um interessante caso de polìtica externa conduzida pelo PT. Lembrem-se do caso Battisti.Estamos nos assemelhando a Venezuela e a Argentina, onde Estado e Governo se confundem.

Médico de Almas disse...

Meus parabéns pelo artigo.
Espero que essa insólita situação se dissipe nas brumas do tempo, como deveria acontecer com todos os maus momentos da nossa história.
Um abraço!
Escreva mais, meu amigo.
A Selva nos une!