Capitalismo e Valores II

29 de julho de 2009

Não é simples. Romper com o círculo de inversão de valores provocado pela prática capitalista levada ao seu extremo é uma tarefa que envolve toda a sociedade, atuando exatamente onde, hoje, parece ser o componente mais frágil do problema: os próprios valores.
Antes, é necessário ressaltar que o papel do Estado como interventor nesse círculo, impondo limites legais à lei de mercado e à “sociedade do consumo”, com palavras de ordem como “Devemos consumir menos!” ou “Devemos nos acostumar com pouco!” etc., não cabem mais neste século

, a menos que queiramos ver regredir as conquistas democráticas e voltar a chafurdar na lama de um ideal comunista utópico e comprovadamente impraticável.
A alternativa, então, deve passar, necessariamente, pela atuação sobre os valores da sociedade. Com as alavancas postas nos seus legítimos controladores, a recordar: a família, a igreja e a escola. Esses três elementos desgastados e carcomidos pelas intempéries dos novos tempos são, ainda que seja uma tarefa muito difícil, os únicos pontos de apoio para iniciar uma contra-revolução de princípios nos dias de hoje.
Sem precisar muito esforço, facilmente constatamos que a família, a igreja e a escola vêm perdendo terreno para outros tipos de agentes (empresas, sociedades financeiras e outras organizações suspeitas em seus propósitos) que, em geral, usam os meios de comunicação de massa para exercer seu deslumbramento quase hipnótico.
A família, essa cada vez mais castigada instituição, é solapada dia após dia. Não existe mais a família padrão, mas a “moderna”, sem necessidade de pai ou de mãe ou de filhos. É apenas uma união de pessoas sobre o mesmo teto, que trabalham e vivem suas individualidades que estão acima de qualquer outro valor coletivo.
A igreja segue tentando, mas sem a mesma força e efeito, valorizar o “ser” em detrimento do “ter”, mas perde vergonhosamente para uma mídia cada vez mais competente em incutir valores distorcidos que missas e cultos não conseguem suplantar.
Por fim a escola, ou na sua expressão mais abrangente, a educação. Essa parece ter recebido toda a carga de uma sociedade corrompida em seus valores, de famílias destruídas e de uma igreja claudicante em seu papel moralizador. Porém, mesmo desvalorizada, por ser incapaz de enfrentar a degeneração e a carga de uma sociedade falida, a escola parece ser o único ponto de apoio onde, aí sim, o Estado tem condições de atuar com vigor, intervindo seriamente para fortalecê-la e, por indução, valorizar a família e a igreja.
Trata-se, portanto, de um projeto de longo prazo, mas que precisa ser iniciado hoje. Quantas gerações serão perdidas antes que o Estado acorde para a necessidade de investir seriamente em educação e preocupar-se mais com o conteúdo do que com as estatísticas maquiadas para satisfazer os números do IDH?

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