Capitalismo e Valores I

9 de junho de 2009

Esse tema não vem de hoje. A cultura capitalista, desde o final da II Guerra mundial, a par do grande desenvolvimento econômico, promoveu uma notada mudança nos valores da civilização ocidental. A capacidade de adquirir e possuir coisas passou a ser o principal anelo pessoal, comprometendo, assim, os aspectos intangíveis da personalidade do homem e, em conseqüência, da sociedade. Esse artigo pretende, justamente, levantar a questão do papel social do marketing e da propaganda que, a serviço de um mundo economicamente liberal, acaba por prestar um desserviço à sociedade.








Hoje, existe uma cultura econômica que leva as pessoas a lutarem por conquistas materiais. Os que não têm a capacidade de “ter” lutam diariamente, pressionados por campanhas publicitárias de toda ordem e apelo possíveis. Quém não lembra daquela propaganda: “... se você não tem Visa, não pertence a este mundo”? Já os que possuem algo convivem com o medo de perder o que têm e alimentam a angustiante ansiedade de ter mais, pela simples necessidade de garantir a manutenção de seu “padrão social mínimo”. Além disso, há o aspecto do status que, cada vez mais é diretamente proporcional, pasmem, à qualidade do aparelho celular. Parece brincadeira... Mas o fenômeno do celular no Brasil e em outros países é um claro exemplo disso. Quem não conhece uma pessoa que não abre mão de ter um celular do tipo “Max-ultra-plus”? É impressionante como trabalhadores que ganham apenas um salário mínimo se preocupam em ter um celular acima de seus padrões de aquisição e, o que é pior, assumem a despesa mensal de uma conta impagável. Hoje o indivíduo é levado a crer que tem muito a perder, se não pode ganhar. O sentimento de perda gerado pela incapacidade de aquisição de coisas é maior do que a alegria de ser. Cabe ressaltar que esse não é um discurso socialista, mas um discurso estratégico que questiona a responsabilidade social da propaganda e do marketing. Atentem para o fato de que a indução, na sociedade, dessa intensa necessidade de “ter” tem sido a causa de muitos males atuais, como a violência, a corrupção, o descaso com o próximo, a desvalorização da vida, etc, etc. Daí a razão desse artigo pretender discutir a responsabilidade dos que manipulam a opinião pública, potencializando, na mídia, nossos mais primitivos instintos relacionados à posse e ao poder. Tudo isso São coisas do nosso século. Coisas do nosso cotidiano... Um sintoma do poder do marketing sobre valores básicos como sobrevivência e bem-estar. Assim caminhamos a passos largos com o processo de degeneração de uma sociedade que valoriza a posse de bens, um dos principais ingredientes da violência moderna. Hoje não se agride para sobreviver, mas para “possuir coisas”. Como romper com esse ciclo é o grande desafio deste momento histórico, de cuja solução pode depender o futuro pacífico da sociedade.

2 comentários:

Médico de Almas disse...

Que bom que voltou a postar.
Estou de olho!
Aqui na Selva, tudo igual.
Um grande abraço e parabéns!

Unknown disse...

Como romper este ciclo?
1) O consumismo é gerado e alimentado pela propaganda.
2) A propaganda só se justifica quando a produção está em nível de rendimentos crescentes (economias de escala) Caso contrário, encarece o produto.
3)Por outro lado a propaganda só existe quando ha diferenciação de produtos (diversas marcas com diversas características)
4) Um governo, mesmo capitalista, é que dá licenças (alvarás) para o que produzir. Portanto, a solução é um governo que estruture um plano econômico sujeito a normas técnicas, tendo em vista diminuir os custos de produção (limitado número de modelos, padrões de medida, durabilidade e prazos para atualização dos modelos.
5) Política de preços fixados por um Departamento de normas técnicas. Um modelo básico para que todos possam ter. Um com melhor qualidade, com preço mais elevado e outro para a classe abastada com preço bastante mais elevado, sujeito a forte tributação para fins de redistribuição de renda.
Pergunta-se: Será isso compatível com um estado democrático e capitalista?